terça-feira, 10 de outubro de 2017

Lugar de fala e produção da diferença: a noção de verdade e visão universalista da história.

Diferença e verdade
Michel Foucault sublinha que essa tem sido característica marcante da perspectiva filosófica da verdade no pensamento moderno ocidental. Ela supõe que em qualquer tempo e lugar há verdade e, portanto, cumprindo certas condições, pode ser conhecida facilmente. Se a verdade de um domínio determinado permanece escondida e torna-se difícil situá-la é porque os conhecimentos do sujeito são limitados em virtude da situação na qual se encontra. O fato é que a verdade está sempre aí. "Não há buraco negro na verdade."

O conhecimento como forma de poder
Tradicional versus moderno
Oral versos Escrito
Campo versus cidade
Economia de subsistência versus economia de produção

“O mito é um texto que se pode dividir em partes e revelar a experiência humana e a ordem social”
 (MUDIMBE, 2013, p. 180).

São articuladores privilegiados do debate sobre a África, dentro e fora do continente, com grande possibilidade de observação dos impasses do colonialismo, a partir do que se poderia considerar como o “centro” intelectual de onde emanam as interpretações “ocidentais” sobre a África.

A invenção de África

O que passa a estar em causa é o direito não apenas de narrar, mas o que narrar, e como narrar, por parte dos intelectuais africanos.
Ver: Valentim Yves Mudimbe “L’Odeur du pére” (1982)

Instrumentos teóricos que tornaram possível uma reavaliação da prática das ciências humanas e da filosofia, na África e fora dela, acompanhada de uma crítica sofisticada e vigorosa dos postulados etnocêntricos europeus e africanos, dos essencialismos e binarismos produzidos em toda parte.



W. Y. Mudimbe

As representações do que seria a “África”, construídas a partir de categorias eminentemente etnocêntricas, teriam interferido de tal modo na compreensão das realidades concretas do continente que acabaram por orientar a concepção e a ação não apenas de atores externos que lá estiveram, mas dos próprios africanos, que “leem, desafiam e reescrevem estes discursos como forma de explicar e definir a sua cultura, a sua história e a sua existência”.






O facto de estas formas consideradas ‘tradicionais’ não terem desaparecido deve ser óbvia ao atentarmos nas contradições actuais que existem por todo o continente, sobretudo entre os processos de produção e as relações sociais de produção, entre a organização do poder e da produção e, por outro lado, os discursos políticos. Com feito, as culturas africanas dispuseram e dispõem de saberes e conhecimentos próprios, os quais estão inscritos em, e dependentes de tradições. Todavia, creio que seria ilusório encetar em busca por tradições africanas originárias, puras e definitivamente fixas, mesmo no período pré-colonial. [...]

A realidade das miscigenações desafia a ideia de tradição enquanto essência pura, que testemunha o seu próprio ser originário... As tradições não são fixas: constituem, de facto, continuidades, mas também descontinuidades; são ‘processos’, ‘desenvolvimentos únicos que emanam de princípios básicos e estáticos’.  (MUDIMBE)

Os termos pós-colonialismo e pós-colonial têm sido empregados nas Ciências Sociais em duas acepções não totalmente excludentes, mas conceitualmente distintas. Na primeira, aplica-se ao período histórico posterior ao momento em que sociedades africanas e asiáticas foram colonizadas por europeus, da década de 1950 para cá. Na segunda, designa uma tendência de interpretação mais ou menos vinculada aos “estudos culturais” e aos “estudos subalternos”, integrada por autores de origem oriental (Edward Said; Homi Bhabha; Gayatri Spivak) ou afro-descendente (Paul Gilroy, Stuart Hall) que, não obstante as preferências temáticas,  metodológicas e analíticas, tem em comum o fato de questionarem a validade das elaborações discursivas, representações  e paradigmas.
 

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Sugestão: Ciclo sobre Descolonização

O teatro Maria Matos, em Lisboa, está a organizar um ciclo sobre Descolonização até ao final do mês de Outubro. Haverá espectáculos mas também conversas, nomeadamente entre a artista Grada Kilomba e a Professora Manuela Ribeiro Sanches, no dia 28 de Outubro. Todos os horários aqui.



Sugestão: Peça de teatro "Os Negros"




A peça de teatro está em cena no teatro São Luiz até ao próximo dia 15 de Outubro.

Tal como o título indicia, trata-se de uma reflexão sobre a condição de negro no Ocidente, enredado numa teia de relações sociais profundamente racistas, que caracterizavam a sociedade Ocidental.
A violência da peça, juntamente com as posições cívicas de Genet (um apoiante dos Black Panthers), ajudaram à polémica numa época em que toda a questão do racismo se encontrava ainda presente com bastante destaque na agenda socio-política.



O condenado que recusa a história e assume o mito exibe impudente suas chagas, o vagabundo oficiante transubstancia a dor e a perversão. Pecado tão mais horrendo, pois sempre é inversão do dogma: sacraliza o ímpio e goza através do que é recusa social. Refina até o limite, com um racionalismo irretorquível, a face malévola refletida no espelho da reta via burguesa. Não é um simples sofista a exercitar habilidades discursivas para uma platéia de doutos, pois Genet não tem pares. A solidão fundamental é um estigma em sua própria carne. Jean Genet é um criador de palavras eficazes, no sentido mais grave do termo. Assassinos oficiam liturgias do crime, o carrasco excita o escritor onanista, o lirismo se produz por intermédio da realização poética do reverso da consciência burguesa, mas, e de novo, é a reafirmação do inescrutável que vem à luz, e que nela se incrusta. O verbo se faz carne, mas herética. A palavra hábil é litania, e torna a corrupção o canto sacramental na catedral dos marginais de Genet. Não gostaríamos de ouvir essa harmonia da perversidade que não é caos, pois o caos é ininteligível. O ladrão nos atira nas faces tranqüilas que a liberdade é inescapável. “Liberdade é maldição possível,  homens honestos”, diz-nos Genet: o silogismo assustador é que a opção pelo crime, pelo que há de obscuro e soturno em nós, realiza-se ao provarmos o fruto acerbo por meio do qual essa literatura expõe a neutralidade essencial do conceito de liberdade que agora nos assedia e se clarifica, ofertado pela voz agônica do excluído: está a nos espreitar sob as gravatas e os horários, repousa na paz dos lares, oculta-se sob a face da presumida inocência.
Jean Genet é um mistério. Jean Genet nos apavora. 
(Carlos Otolan Miranda, Revista Cult)
 

domingo, 8 de outubro de 2017

Comunicação Intercultural: para uma nova noção de cultura

A construção do sentimento de nacionalidade, de comunidade foi fundamental para a consolidação dos Estados Nacionais. A formação da ideia de uma nação ocorre através do compartilhamento de sentidos, de narrativas produzidas pelas culturas nacionais. Como afirma Benedict Anderson, “a identidade nacional é uma comunidade imaginada” (ANDERSON apud HALL, 2006, p. 51).

São narrativas moldadas pela força das inter-relações sociais que comportam no seu interior elementos de coesão, resistência, consonância e dissonância. A nacionalidade é um conjunto de representações, características da cultura de um povo que permite reconhecê-lo, diferenciá-lo dos demais.
Para dizer de forma simples: Não importa quão diferentes seus membros possam ser em termos de classe, género ou raça, uma cultura nacional busca unificá-los numa identidade cultural, para representá-los todos como pertencendo à mesma e grande família nacional (HALL, 2006, p. 59).

Diferentemente dessa visão homogénea e horizontal, Bhabha propõe uma nova forma de pensar a nação, privilegiando suas relações, seus conflitos sociais, suas minorias, seus grupos excluídos. Bhabha também discorre sobre o conceito de diversidade cultural e diferença cultural, preferindo a utilização desse último termo para o tratamento das questões ligadas a cultura. Segundo ele, a diversidade cultural abrange um universo de coisas, enquanto a diferença cultural representa melhor como enunciados são criados para promover a legitimação de determinadas culturas em relação a outras.

Essa possibilidade de ser nomeado, de poder nomear-se, que os diversos tipos de escravidão, de violência, de discriminação, de dominação, de infanticídios, de assassinatos tem reiteradamente negado ao longo da história. Há um desejo de solidariedade social que pede pelos encontros, pela visibilidade, pela irrupção de outros significantes que não aqueles da tradição. São os significantes da possibilidade da identidade intervalar, das vidas duplas, do estranhamento, das ambivalências, onde a externalidade do interior introduz no coração da subjetividade.


Mulheres negras: moldando a teoria feminista, por bell hooks

  bell hooks Artigo completo:  (20) (PDF) bell hooks * Mulheres negras: moldando a teoria feminista Black women: shaping feminist theory | D...